Repetição no método Montessori para melhorar a atenção no TDAH
Para pais e educadores de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), encontrar estratégias que promovam o foco e a calma pode ser uma jornada desafiadora. Em um mundo que valoriza a multitarefa e a velocidade, a ideia de “repetição” pode parecer contraintuitiva. No entanto, dentro da filosofia Montessori, a repetição não é uma tarefa monótona, mas sim uma chave de ouro para desbloquear o potencial de concentração. Este artigo explora a fundo como a repetição no método Montessori para melhorar a atenção no TDAH funciona como uma poderosa aliada, transformando a prática constante em um caminho para a maestria, autoconfiança e, acima de tudo, um foco mais profundo e sustentado.
Compreendendo o TDAH e os Desafios de Atenção
Antes de mergulhar nas soluções Montessorianas, é fundamental entender a base neurológica do TDAH e como ele impacta diretamente a capacidade de uma criança de aprender e interagir com o mundo. Não se trata de falta de vontade ou preguiça, mas de uma fiação cerebral diferente que exige abordagens igualmente diferenciadas.
O que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta o funcionamento do cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pelas funções executivas: atenção, controle de impulsos, organização e memória de trabalho. Os sintomas são geralmente agrupados em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Uma criança com TDAH pode parecer estar “no mundo da lua”, ter dificuldade em seguir instruções, perder objetos com frequência, agitar-se constantemente ou interromper os outros. É crucial entender que esses comportamentos não são intencionais. O cérebro com TDAH busca constantemente estímulos para se manter “acordado” e regulado, o que torna tarefas que exigem atenção sustentada, como uma aula expositiva ou a leitura de um livro, extremamente desafiadoras e mentalmente exaustivas.
Como a falta de atenção impacta o aprendizado e o desenvolvimento?
O impacto da desatenção vai muito além das notas baixas. No ambiente escolar, a dificuldade em focar impede a absorção de novos conceitos, a conclusão de tarefas e a organização do material. Isso pode levar a um ciclo vicioso de frustração, baixa autoestima e a crença de que “não sou inteligente”. Socialmente, a desatenção e a impulsividade podem dificultar a manutenção de amizades, pois a criança pode não perceber pistas sociais, interromper conversas ou agir sem pensar nas consequências. Em casa, tarefas simples como arrumar o quarto ou seguir uma rotina matinal podem se transformar em batalhas diárias. Esse cenário de desafios constantes reforça a necessidade de estratégias que não apenas “corrijam” o comportamento, mas que trabalhem com a neurologia da criança, construindo as pontes neurais necessárias para o desenvolvimento da atenção.
Os Pilares do Método Montessori: Liberdade, Ordem e Repetição
O método Montessori, desenvolvido pela médica e educadora Maria Montessori, baseia-se na observação científica do desenvolvimento infantil. Sua abordagem contrasta fortemente com os métodos tradicionais, focando na autonomia da criança dentro de um ambiente cuidadosamente preparado. Três pilares são essenciais para entender sua eficácia: a liberdade com limites, a importância da ordem e o poder da repetição.
A filosofia Montessori: Foco na autonomia e no ritmo individual
O coração da filosofia Montessori é o respeito profundo pela criança como um indivíduo capaz de guiar seu próprio aprendizado. Em uma sala de aula Montessoriana, você não verá um professor na frente da turma ditando o que todos devem fazer ao mesmo tempo. Em vez disso, as crianças têm a liberdade de escolher suas atividades (dentro de uma gama de opções pré-selecionadas e apropriadas para seu desenvolvimento) e trabalhar nelas pelo tempo que precisarem. Esse conceito de “liberdade dentro de limites” é crucial. O ambiente é meticulosamente organizado para promover a independência, com materiais auto-corretivos que permitem à criança identificar e aprender com seus próprios erros, sem a necessidade de intervenção constante de um adulto. Essa abordagem nutre a motivação intrínseca e ensina a criança a confiar em suas próprias capacidades.
O papel central da repetição para a maestria e concentração
Dentro dessa estrutura de liberdade, Maria Montessori observou um fenômeno fascinante: as crianças, quando genuinamente interessadas em uma atividade, a repetem inúmeras vezes por vontade própria. Essa não é a repetição forçada da memorização tradicional. É uma repetição impulsionada pela necessidade interna de aperfeiçoar uma habilidade e compreender profundamente um conceito. Para Montessori, essa repetição é o “grande trabalho” da criança. É através dela que a concentração se aprofunda, os movimentos se refinam e as conexões neurais se solidificam. Cada repetição constrói uma camada adicional de entendimento e confiança, levando a um estado de fluxo e foco intenso, que Montessori chamou de “polarização da atenção”. É exatamente esse estado que a repetição no método Montessori para melhorar a atenção no TDAH busca cultivar.
A Repetição no Método Montessori como Ferramenta para o Cérebro com TDAH
Agora, conectamos os pontos: como essa prática de repetição voluntária pode ser uma das ferramentas mais eficazes para ajudar um cérebro com TDAH a desenvolver o foco? A resposta está na neurociência e na forma como a repetição molda o cérebro e acalma o sistema nervoso.
Fortalecendo as conexões neurais através da prática consistente
O cérebro é plástico, o que significa que ele pode mudar e criar novas conexões ao longo da vida – um conceito conhecido como neuroplasticidade. Para o cérebro com TDAH, as vias neurais relacionadas às funções executivas são muitas vezes menos eficientes. A repetição de uma atividade específica, como transferir grãos com uma pinça ou montar um quebra-cabeça, funciona como um exercício para o cérebro. Cada vez que a criança realiza a tarefa, ela fortalece o caminho neural associado a ela. Com o tempo, essa via se torna mais forte e mais rápida, exigindo menos esforço consciente e menos “energia” das funções executivas. A tarefa se torna mais automática, liberando recursos mentais para manter o foco por mais tempo. É um treinamento cerebral disfarçado de brincadeira, perfeitamente alinhado com a necessidade de prática para construir habilidades de atenção.
Como a repetição estruturada reduz a ansiedade e a sobrecarga sensorial
Crianças com TDAH frequentemente experimentam ansiedade e sobrecarga sensorial. Um ambiente caótico ou imprevisível pode sobrecarregar o sistema nervoso, tornando quase impossível a concentração. A repetição de atividades familiares e estruturadas oferece o oposto: previsibilidade e segurança. Saber exatamente o que esperar de uma atividade, quais são os passos e qual será o resultado, reduz drasticamente a ansiedade. O cérebro não precisa gastar energia tentando decifrar o desconhecido e pode, em vez disso, dedicar-se à tarefa em si. Atividades Montessorianas, apresentadas em bandejas individuais e com um propósito claro, criam uma “bolha” de ordem e calma. Essa estrutura externa ajuda a criança a construir uma estrutura interna, permitindo que o sistema nervoso se regule e que a mente se acalme o suficiente para entrar em um estado de foco.
Estratégias Práticas: Aplicando a Repetição Montessoriana no Dia a Dia
A beleza do método Montessori é que seus princípios podem ser aplicados tanto na escola quanto em casa. Criar um ambiente que incentive a repetição focada não requer uma reforma completa, mas sim uma mudança de perspectiva e algumas adaptações estratégicas no ambiente e nas atividades oferecidas à criança.
Atividades Montessorianas clássicas que incentivam a repetição
Muitos materiais Montessorianos são projetados para convidar à repetição. Por exemplo, as atividades de “Vida Prática”, como despejar água entre duas jarras, abotoar um casaco em um quadro de vestir ou lavar uma pequena mesa, têm um ciclo de atividade claro (início, meio e fim) e um propósito real. A criança pode repetir essas tarefas até sentir que dominou o movimento. Outros exemplos incluem os materiais sensoriais, como a Torre Rosa (empilhar dez cubos do maior para o menor) ou a Escada Marrom (ordenar prismas por espessura). O controle de erro é inerente ao material – a torre vai cair se não for empilhada corretamente. Isso incentiva a criança a tentar de novo, refinando sua percepção e coordenação motora, enquanto constrói sua capacidade de atenção de forma orgânica e sem pressão externa.
Adaptando o ambiente em casa para promover a concentração e a repetição
Para aplicar a repetição no método Montessori para melhorar a atenção no TDAH em casa, comece pela organização. Crie um espaço de atividades com prateleiras baixas e organizadas, onde cada atividade é apresentada em sua própria bandeja ou cesta. Limite o número de opções disponíveis para evitar a sobrecarga de escolha. Gire as atividades periodicamente para manter o interesse. Estabeleça rotinas previsíveis para as tarefas diárias, como vestir-se, guardar os brinquedos ou ajudar a pôr a mesa. Use quadros visuais para delinear os passos. Ao apresentar uma nova atividade, demonstre-a lentamente e sem falar, permitindo que a criança observe os movimentos. Depois, convide-a a tentar, respeitando seu ritmo e permitindo que ela repita o processo quantas vezes desejar, sem interrupção.
Benefícios Comprovados e o Impacto a Longo Prazo
A aplicação consistente da repetição Montessoriana gera benefícios que se estendem muito além da capacidade de completar uma tarefa. O impacto a longo prazo molda a forma como a criança se vê como aprendiz e como ela aborda os desafios, construindo uma base sólida para o sucesso acadêmico e pessoal.
Aumento da capacidade de foco e do período de atenção sustentada
Este é o benefício mais direto e procurado. À medida que a criança se engaja na repetição, seu “músculo” da atenção se fortalece. Períodos de foco que antes duravam segundos podem se estender para minutos, e depois para períodos ainda mais longos. Esse processo é gradual e cumulativo. A satisfação de dominar uma tarefa através da própria persistência cria um ciclo de feedback positivo. A criança começa a associar o esforço focado com um sentimento de realização, o que a motiva a se engajar em outras tarefas desafiadoras. Conforme destacado por especialistas da ADDitude Magazine, uma fonte confiável sobre TDAH, a estrutura e a autonomia do método Montessori podem ser particularmente benéficas para crianças que lutam com as funções executivas.
Desenvolvimento da autodisciplina e da motivação intrínseca
Em um sistema tradicional, a motivação muitas vezes vem de fora (notas, elogios, recompensas). No método Montessori, ao permitir que a criança escolha sua atividade e a repita até a satisfação pessoal, a motivação se torna intrínseca. A recompensa é o próprio sentimento de competência e maestria. Isso é transformador para uma criança com TDAH, que pode ter uma relação complicada com a motivação. Ela aprende que é capaz de se regular, de persistir diante de um desafio e de alcançar um objetivo por conta própria. Essa autodisciplina não é imposta, mas cultivada de dentro para fora. A longo prazo, isso se traduz em maior resiliência, uma atitude mais positiva em relação ao aprendizado e uma maior capacidade de iniciar e completar tarefas de forma independente.
Conclusão: A Repetição Montessoriana: Mais que um Método, uma Jornada de Foco e Autoconfiança
Em resumo, a repetição no método Montessori para melhorar a atenção no TDAH oferece uma abordagem profundamente respeitosa e eficaz. Ela reconhece os desafios neurológicos do TDAH e, em vez de tentar suprimi-los, oferece ferramentas que trabalham em harmonia com a necessidade do cérebro por estrutura, prática e propósito. Ao fortalecer as conexões neurais, reduzir a ansiedade e promover um ambiente de calma e ordem, a repetição deixa de ser uma tarefa e se torna um caminho para a autodescoberta. Os benefícios vão além do aumento do tempo de foco; eles englobam o desenvolvimento da autoconfiança, da disciplina interna e de um amor genuíno pelo aprendizado. Para a criança com TDAH, dominar uma tarefa através da própria persistência é uma declaração poderosa: “Eu consigo”. E essa crença é, talvez, o presente mais duradouro que qualquer método educacional pode oferecer.



